Reflexão sobre violência física e psicológica através do filme: Preciosa, uma história de esperança

A história de uma menina de 16 anos, abusada sexualmente, violentada psicologicamente e excluída da sociedade. Um drama comovente que traz sérias reflexões sobre o papel da sociedade e das redes de apoio sociais, educacionais, médicas e psicológicas a luz de identificarem e agirem em prol dos mais vulneráveis. Usá-lo em treinamento empresariais ajudam a sensibilizar gestores e RH’s sobre o papel que exercem e o poder que possuem para auxiliar identificar pessoas vulneráveis em meio a sociedade.

Narrativa impressionante, forte e de uma sensibilidade comovente. Mesmo tendo sido construída a narrativa há mais de 10 anos, ainda traz um impacto muito grande sobre como as relações familiares permeiam a história, crenças e futuro do indivíduo. Além disso, como o seio familiar, pai e mãe, e suas histórias, podem impactar o desenvolvimento de um ser humano.

Enredo

Claireece “Preciosa” Jones é a personagem principal. Vive em Harlem, sendo a história se passando na década de 80. Jovem de 16 anos, Preciosa é vítima de preconceitos por ser negra e obesa. Demonstra sentimentos de inferioridade, rejeição e isolamento social na escola onde frequenta, sendo assim, vai para a escola de forma apática, não interage com os colegas e com os professores. Sua interação se restringe a violência, quando contrariada ou injustiçada, revida com agressão física.

Vive num “mundo” só seu, onde a violência doméstica impera, através de abusos sexuais do pai e agressões físicas e psicológicas da mãe. Ninguém do vínculo fora da família tem contato íntimo o suficiente para que Preciosa conte que está grávida do segundo filho, fruto do abuso sexual sofrido pelo pai. Ela não compartilha essa verdade nem mesmo com a diretora da escola quando confrontada de seu “descuido” e por estar pela segunda vez grávida. Talvez por vergonha, ou talvez por não entender de fato o que estava acontecendo com si mesma.

O que propõe o drama, e nesse ponto é extremamente relevante, é o significado que as redes como escola e centros de apoio e assistência social são importantes para identificar esses abusos e violências domésticas com crianças e jovens. Orientar, sensibilizar e proteger estas famílias, que muitas vezes estão doentes e vivem como se não existissem para a sociedade.

Tipos de violência doméstica familiar no contexto do filme.

Muitas vezes a agressão sexual, por exemplo, pode vir acompanhada de agressão física e psicológica, além da negligência. A história de Preciosa ilustra de forma explícita todos os tipos de violência Intrafamiliar.

Estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de acordo com a Lei Maria da Penha: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial − Capítulo II, art. 7º, incisos I, II, III, IV e V.

Violência Física: Diversas são as cenas de violência apresentadas no filme. Muitas delas são cenas da mãe contra Preciosa. Em uma determinada cena, por exemplo, Preciosa responde para a mãe não ter feito algo solicitado e é agredida com um objeto da cabeça. Ela cai desmaiada.

Violência Psicológica: Algumas das primeiras cenas apresentam Preciosa na sala de aula, abatida, quieta e sem participação. Parece distante em pensamentos, apresentando isolamento social constante. Não se relaciona com os colegas, e quando é ofendida reage com agressividade. Esses comportamentos estão relacionados à algumas das consequências da violência psicológica.

Violência Moral: No caso de Preciosa, a negligência é o principal fator desencadeador da violência moral. As diversas formas de maus tratos ilustram de maneira clara o quanto a personagem é constantemente exposta a fatores de risco que a tornam vulnerável à violência e o quanto demanda proteção. A negligência pode ser observada em sua comunidade, falta de serviços de apoio para a família e instituições que lidem com necessidades especializadas, tolerância da violência etc.

Sexual: O abuso sexual cometido pelo pai de Preciosa e consentido pela mãe desde os três anos de idade, prejudicou de forma extrema o desenvolvimento da garota. Preciosa não só engravidou duas vezes do pai, como também contraiu o vírus HIV.

Violência Patrimonial: Caracterizada principalmente pela falta de recursos econômicos para subsistência.

Qual o papel da sociedade? Qual o papel das empresas nesse contexto?

E o que a sociedade pode fazer para mudar esse meio? O que profissionais da saúde, professores, assistentes sociais e demais profissionais que têm contato com a população vulnerável pode fazer para proteger essas pessoas? E o que empresas podem fazer para mudar essa realidade tão cruel ainda enfrentada por muitas famílias?

De onde vem a tendência para a violência? Somos seres biologicamente programados para a violência? Tanto a agressão como a violência em si não são fundamentalmente biológicas, mas resultados de um contexto cultural patriarcal que colabora para um modo que aceita a agressão e violência (MATURANA, 1999).

O filme, drama comovente que traz sérias reflexões sobre o papel da sociedade e das redes de apoio sociais, permite identificar de forma bem clara os determinantes de violência, e que não permitiam que Preciosa se sentisse livre. Somente a partir das mudanças relacionadas a nova escola, ao momento que saiu de casa e foi para um abrigo, Preciosa começa-se a se sentir livre e pertencente a sociedade. Pode-se dizer que ela sai de casa devido à extrema aversão que este ambiente familiar se mostrava e fugir traz a esperança de mudanças positivas na sua vida.

Não se pode deixar de ressaltar mais uma vez a extrema relevância da ação interdisciplinar (assistência social, escola e saúde) para que crianças, jovens e adultos vulneráveis possam ser enxergados e terem a dignidade de volta.

Empresas, através de seus profissionais de RH, podem contribuir, orientar e sensibilizar suas equipe para que a reflexão sobre esse assunto de extrema importância chegue a mais pessoas. Disseminar o conhecimento é a principal forma de lutar contra a violência doméstica.

REFERÊNCIAS:

Tipos de violência. INSTITUTO MARIA DA PENHA.

MATURANA, H. EMOÇÕES E LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO E NA POLÍTICA. Belo Horizonte: Editora EFMG, 1999.

 

Por

Paula Lourenço

Consultora de RH da Loris Consultoria

2 Comentários
  • Gabriela Gomes

    27 out 2022 - 2:10 pm

    Vale muito a pena assistir esse filme. Mesmo sofrendo tanta violência, preciosa consegui ver luz no final do túnel para seguir em frente.

  • Jéssica Campos

    14 nov 2022 - 2:11 pm

    Adorei a análise! Você conseguiu analisar o filme por diversas perspectivas e compreendeu o quanto é importante o olhar sistêmico.

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